O congelamento de bilhões de dólares em verbas para universidades de ponta nos EUA, decidido pelo presidente Donald Trump, abriu caminho para que a União Europeia (UE) tente atrair alguns dos principais cientistas e acadêmicos norte-americanos. De olho especialmente em pesquisadores das áreas de imunologia, doenças transmissíveis, mudanças climáticas e ciências sociais, universidades europeias e a Comissão Europeia anunciaram uma série de medidas para oferecer liberdade acadêmica a quem optar por se mudar para o bloco, segundo informações da rede Deutsche Welle (DW).
O presidente do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC), Maria Leptin, classificou a decisão do governo americano de cortar verbas como “ultrajante e injustificada”. Ela acrescentou: “Tenho muitos amigos e colegas nos Estados Unidos e é simplesmente chocante ver o que está acontecendo por lá”, afirmou.
Entre as iniciativas já em curso, a Vrije Universiteit Brussel (VUB), na Bélgica, informou ter destinado recursos e criado um canal de atendimento específico para acadêmicos dos EUA interessados em se estabelecer na capital europeia.

O reitor da universidade, Jan Danckaert, explicou que a instituição decidiu anunciar a oportunidade diretamente no mercado americano diante dos cortes abruptos de financiamento. “Pesquisadores devem ser protegidos o máximo possível da influência política. Mas, nos Estados Unidos, vemos exatamente o oposto. O governo está interferindo por razões políticas”, disse.
Na França, a Universidade Aix-Marseille (AMU) lançou o programa Espaço Seguro para a Ciência, com o objetivo de recrutar até 15 cientistas norte-americanos que se sintam ameaçados ou impedidos de dar continuidade às suas pesquisas. Segundo o presidente da instituição, Eric Berton, o projeto prevê a captação de até 15 milhões de euros (R$ 96 milhões) para viabilizar a iniciativa ao longo de três anos.
Além das ofertas das universidades, a UE anunciou que vai dobrar o valor das bolsas oferecidas pelo ERC para pesquisadores que se mudarem para o bloco. O incentivo extra para cobrir custos de realocação passará de 1 milhão de euros (R$ 6,4 milhões) para 2 milhões de euros (R$ 12,8 milhões), elevando o total inicial da bolsa para 3,5 milhões de euros (R$ 22,5 milhões) em projetos iniciais e para 4,5 milhões de euros (R$ 29 milhões) nas bolsas avançadas, com duração de cinco anos.
“Esses recursos ajudam a cobrir custos incomuns, como a transferência de um laboratório ou a compra de equipamentos caros, necessários para a pesquisa”, explicou Leptin, ressaltando que os financiamentos seguem critérios de mérito.
O bloco europeu também trabalha em uma nova política de vistos, que deve ser apresentada até o fim do ano, além de planejar a inclusão da liberdade de pesquisa científica como direito assegurado em sua legislação.
“A Europa está olhando para vocês”, disse a comissária europeia para Startups, Pesquisa e Inovação, Ekaterina Zaharieva, em mensagem direcionada aos cientistas americanos.