O impacto das sanções internacionais sobre a economia russa em virtude da guerra da Ucrânia finalmente começa a aparecer com nitidez. Em 2024, as importações pela Rússia de equipamentos industriais somaram US$ 7,7 bilhões (R$ 45,2 bilhões), uma queda de mais de 30% em relação aos US$ 11 bilhões (R$ 64,6 bilhões) registrados no ano anterior. Os dados, extraídos de registros alfandegários e analisados pelo site The Insider, mostram retrações especialmente acentuadas em setores estratégicos como eletrônicos, metalurgia e componentes mecânicos.
O corte mais dramático aconteceu nas importações de componentes eletrônicos, que despencaram de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,2 bilhões) para apenas US$ 260 milhões (R$ 1,3 bilhão) em 2024. Até o ano passado, empresas chinesas lideravam o fornecimento indireto de microchips e sensores de navegação ocidentais.
Agora, fabricantes quase desconhecidos, como a Nekom Limited, de Hong Kong, passaram a ocupar espaço, sinalizando uma mudança de estratégia: em vez de importar peças de grandes marcas, a Rússia vem apostando em placas eletrônicas sob encomenda.

A China, que havia se tornado a principal fornecedora da indústria russa após o isolamento imposto pelo Ocidente, também reduziu significativamente seus embarques. Itens como sistemas ópticos, eixos de transmissão e centrífugas registraram queda acentuada. As exportações chinesas para a Rússia caíram em todos os setores industriais, com exceção dos equipamentos de metalurgia.
Paralelamente, surgiram rotas de fornecimento incomuns, passando por países como Gabão, Camarões, Haiti e até Vanuatu. Em muitos desses casos, os produtos são originalmente fabricados por empresas ocidentais, mas são reenviados por intermediários desses países tropicais, dificultando o rastreamento e a fiscalização. A Turquia também se consolidou como um importante hub logístico, intermediando remessas de máquinas de corte de metal e sistemas de perfuração.
Apesar das tentativas de contornar o bloqueio, os dados revelam uma erosão progressiva da capacidade da Rússia de manter seu parque industrial militar. Peças essenciais como furadeiras alemãs, máquinas de corte israelenses, sensores suíços e processadores ópticos australianos praticamente desapareceram das estatísticas aduaneiras. Já os circuitos integrados, carro-chefe das importações em 2023, saíram do topo da lista em 2024: foram apenas US$ 44 milhões (R$ 258 milhões), contra mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões) no ano anterior.
Mesmo assim, algumas empresas ocidentais aparecem com crescimento surpreendente. A japonesa Tsugami e a sul-coreana Hyundai Wia lideraram o fornecimento de equipamentos de usinagem em 2024. Já a americana Nidec Minster Corporation viu suas exportações aumentarem 26 vezes, enquanto a alemã Emag GmbH cresceu 13 vezes no mesmo período.
Segundo os dados, Belarus destacou-se entre os países da União Econômica Eurasiática (EAEU) ao fornecer mais de US$ 440 milhões (R$ 2,58 bilhões) em dispositivos ópticos, como miras utilizadas em tanques. Já nos setores de energia e aviação, empresas como Rolls-Royce, General Electric e CFM International ainda aparecem como grandes fornecedoras — muitas vezes por conta de embarques únicos e equipamentos usados.