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Quatro jornalistas russos foram condenados na terça-feira (9) a cinco anos e seis meses em colônia penal, sob acusação de integrarem uma organização considerada “extremista” pelo Kremlin. Segundo a agência estatal de notícias Tass, os profissionais são acusados de colaboração com a Fundação Anticorrupção (FBK) criada pelo opositor Alexey Navalny em 2011 e banida na Rússia. As informações são da rede CNN.
Os réus, Antonina Favorskaya, Sergei Karelin, Konstantin Gabov e Artem Kriger, estavam sendo julgados desde outubro, em processo fechado ao público. A promotoria afirmou que eles produziram material para o canal da FBK no YouTube, o que seria proibido pela “lei do agente estrangeiro“, usada pelo governo para reprimir vozes dissidentes. Todos negam as acusações.
A legislação, criticada por organizações internacionais como a Anistia Internacional, vem sendo usada de forma crescente para perseguir jornalistas e ativistas. A entidade afirmou que a norma representa um “ataque à liberdade de associação” na Rússia. Para o Human Rights Watch (HRW), a condenação dos repórteres marca mais um capítulo na repressão ao legado de Navalny.

Os réus
A fotógrafa Antonina Favorskaya foi presa após filmar pessoas que colocavam flores no túmulo de Navalny, morto em 16 de fevereiro de 2024 quando cumpria pena em uma colônia penal na Sibéria. Já os jornalistas Konstantin Gabov e Sergei Karelin foram presos um mês depois, acusados de armazenar material que seria posteriormente publicado nos canais do oposicionista.
O quarto réu é Artem Kriger, o mais jovem do grupo. Também jornalista, ele cobriu julgamentos politicamente sensíveis na Rússia, bem como protestos populares, e não está clara a relação alegada pelo governo russo entre ele e a organização de Navalny.
Principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais e denunciava casos de corrupção envolvendo o governo, o que levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, um caso de fraude. Os promotores alegaram que ele não se apresentou à polícia justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais e a Fundação Anticorrupção (FBK) dele de funcionarem, classificando-os como “extremistas”. Julgado e condenado, o oposicionista jamais recuperou a liberdade e mantinha contato com seus seguidores pelas redes sociais, atualizadas por aliados.
A última medida retaliatória do governo contra Navalny foi transferi-lo para a gelada colônia penal IK-3, no Ártico russo, onde ele morreu no dia 16 de fevereiro de 2024. O inimigo número um de Putin desmaiou quando caminhava no pátio, e as tentativas de ressuscitá-lo, segundo os agentes carcerários, foram em vão.
Navalny cumpria pena de 30 anos por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas e frequentemente reclamava do tratamento que recebia no cárcere, dizendo inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.
A perseguição de que era vítima levou aliados, grupos de defesa dos direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) a culparem o governo russo pela morte, alguns usando a palavra “assassinato”.