SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Regina Duarte afirmou em entrevista a Pedro Bial, exibida no início da madrugada desta terça-feira (22), que não quer mais decorar textos após 60 anos de carreira na televisão e, por isso, só aceitaria participar da próxima novela de Aguinaldo Silva, “Três Graças”, se não tivesse que falar nada.
“Fiz isso a minha vida inteira. Trabalhava 24 horas por dia: 12 gravando e 12 decorando”, disse.
A participação no Conversa com Bial reforça o movimento de reaproximação da Globo com a atriz, em uma relação abalada desde a saída da artista em 2020, para assumir a secretaria especial de Cultura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Chamada de rainha por Bial, Regina pouco falou sobre seu apoio ao ex-presidente. O mote da conversa foram os 40 anos de “Roque Santeiro”, novela que marcou época ao satirizar a exploração política e comercial da fé popular e foi censurada em sua primeira versão, em 1975.
“É uma forma de recuperar essa relação tão importante na minha vida”, admitiu Regina ao ser perguntada sobre a “volta da filha pródiga”. A temporada 2025 do Conversa com Bial homenageia os 60 anos da Globo.
No estúdio, a atriz reviu cenas marcantes da Viúva Porcina, protagonista de “Roque Santeiro”, e revelou discordâncias e arrependimentos em relação a uma das personagens mais icônicas da história das novelas.
“Hoje eu cortaria 80% da gritaria da Porcina. Não precisava, não sei porque inventei essa gritaria”, afirmou. “Eu via os câmeras rindo, achava que estava agradando, comecei a gritar cada vez mais alto e perdi a noção”.
Regina não gosta também da famosa cena em que Sinhozinho Malta, interpretado por Lima Duarte, lambe a mão de Porcina feito um cachorrinho. E preferia que a viúva tivesse ido embora com Roque Santeiro (José Wilker), no que foi contrariada pelo autor, Dias Gomes.
A atriz elogiou o trabalho de Taís Araújo no remake de “Vale Tudo”, no papel de Raquel, vivida por Regina na primeira versão. As duas trocaram mensagens carinhosas antes da estreia.
“Ela está muito bem. É uma grande atriz. Falei: relaxa e se solta. É um parque de diversão”.
A entrevista contou com a participação da jornalista Laura Mattos, autora do livro “Herói Mutilado”, sobre a obra “O Berço do Herói”, de Dias Gomes, que deu origem a “Roque Santeiro” e sofreu censura e cortes em todas as versões -na peça de teatro, em 1965; na primeira versão da novela, proibida de ir ao ar em 1975; e na versão que foi ao ar dez anos depois, com cortes.
“A censura é prejudicial para a arte. Cada um que escolha o que quer seguir, o que quer louvar”, comentou a atriz.
Bial fez uma relação entre a censura e os ataques que Regina recebeu ao apoiar Bolsonaro e participar do governo do ex-presidente.
“Fui defenestrada. Mas a sociedade já evoluiu, já aceita que posso fazer escolhas e não seguir o evangelho a, b ou c”, ela respondeu, na única menção direta da noite ao bolsonarismo.
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