Propostas apresentadas pelos Estados Unidos para tentar pôr fim à guerra entre Rússia e Ucrânia enfrentaram resistência por parte de autoridades ucranianas e europeias. Segundo documentos obtidos pela Reuters, as contrapropostas elaboradas por Kiev e por representantes europeus revelam diferenças significativas em pontos cruciais, como o futuro dos territórios ocupados, o levantamento de sanções e os termos das garantias de segurança.
Os textos detalham as negociações realizadas entre representantes dos Estados Unidos, da Europa e da Ucrânia em Paris, no dia 17 de abril, e em Londres, na última quarta-feira (23). De acordo com fontes próximas ao processo, essas rodadas de conversas marcam o esforço mais consistente pela diplomacia desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022. O presidente norte-americano, Donald Trump, tem demonstrado interesse em alcançar um desfecho rápido para o conflito.

As maiores divergências dizem respeito à ordem dos temas a serem resolvidos e às condições para a implementação de um eventual acordo. O documento apresentado pelo enviado de Trump, Steve Witkoff, propõe o reconhecimento formal pelos Estados Unidos da anexação da Crimeia pela Rússia, além de aceitar, na prática, o controle russo sobre áreas no sul e no leste da Ucrânia.
Já a proposta europeia e ucraniana defende que qualquer discussão sobre territórios seja adiada até depois da assinatura de um cessar-fogo, sem admitir reconhecimento de domínio russo sobre regiões ucranianas.
Outro ponto de desacordo diz respeito às garantias de segurança para Kiev. Enquanto o texto norte-americano menciona uma “robusta garantia de segurança” oferecida por países europeus e aliados, mas veta a adesão da Ucrânia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a contraproposta é mais detalhada. Ela prevê garantias semelhantes ao Artigo 5 da aliança militar transatlântica, que estabelece defesa mútua entre os membros, e não impõe limites ao tamanho das Forças Armadas ucranianas nem restrições à presença militar de aliados no território do país, condição que tende a gerar forte oposição de Moscou.
No aspecto econômico, os Estados Unidos sugerem a retirada das sanções impostas à Rússia desde a anexação da Crimeia, como parte do acordo em negociação. Por outro lado, o documento europeu e ucraniano defende um alívio gradual dessas sanções apenas após a consolidação de uma paz sustentável, com a possibilidade de retomada das penalidades caso Moscou descumpra o tratado.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou na quinta-feira (24) que as propostas surgidas nas conversas de Londres já foram encaminhadas à mesa de Trump.