A ausência da China nas negociações mais recentes para um cessar-fogo na guerra da Ucrânia evidenciam os limites do papel diplomático de Beijing em crises internacionais de alto escalão. Esta é a opinião de analistas citados pelo jornal South China Morning Post, que destacam o papel central dos EUA mesmo frente a Vladimir Putin, o mais importante aliado do líder chinês Xi Jinping.
Desde janeiro, quando Donald Trump reassumiu a presidência americana, seu enviado Steve Witkoff já se encontrou quatro vezes com o líder russo em menos de três meses. Os encontros resultaram em uma proposta de cessar-fogo de 30 dias, que teria sido discutida entre representantes americanos, europeus e ucranianos, sem qualquer participação chinesa.
Mais recentemente, Trump deu novo passo ao firmar um acordo com Putin que prevê negociações de paz antes mesmo que um cessar-fogo seja estabelecido. Embora a posição de Washington tenha desagradado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e seus aliados europeus, mostrou mais uma vez que o norte-americano tem canal aberto com o líder russo e não se importa em mostrar-se aberto às ideias dele.

A exclusão de Beijing dessas conversas tem causado preocupação entre diplomatas chineses, de acordo com fontes ouvidas sob condição de anonimato. Especialistas apontam que esse distanciamento sinaliza um enfraquecimento do poder de articulação global da China.
“Isso mostra os reais limites da influência da China e aponta os Estados Unidos como o verdadeiro árbitro da guerra e da paz”, disse Sergey Radchenko, da Universidade Johns Hopkins.
Apesar de o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Lin Jian ter reiterado que o país apoia todos os esforços por paz, não há evidências de que Beijing esteja participando ativamente dessas negociações. “Esperamos que as partes envolvidas continuem com o diálogo e as negociações para alcançar um acordo de paz justo, duradouro e vinculativo”, disse ele.
Segundo Elizabeth Wishnick, pesquisadora do Centro de Análises Navais dos EUA, a exclusão chinesa mostra que a tentativa chinesa de se apresentar como neutra no conflito “não foi muito crível”, dada sua proximidade com Moscou. Essa percepção comprometeu a aceitação de uma eventual proposta de mediação por parte da China, tanto pela Ucrânia quanto pela Europa.
Beijing, embora fracasse na diplomacia, continua a reforçar seus laços com a Rússia, inclusive no setor comercial e tecnológico. A visita de Xi Jinping a Moscou na semana passada resultou em uma declaração conjunta com Putin contra a “hegemonia” da política externa americana.
Ainda assim, segundo Vitaly Kozyrev, professor da Endicott College, ninguém em Moscou acredita que os EUA conseguirão afastar a Rússia da aliança com a China: “A ajuda econômica e diplomática chinesa durante a guerra foi crucial para os russos”, avalia.