A China intensificou os esforços para convencer o Japão a se unir ao vizinho contra as tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em meio à escalada das tensões comerciais entre Washington e Beijing. Segundo a revista Newsweek, que cita ainda informações da agência Kyodo News, autoridades chinesas encaminharam uma carta oficial ao primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, pedindo cooperação para enfrentar as barreiras tarifárias americanas.
O apelo foi feito pelo premiê chinês, Li Qiang, por meio do embaixador de Beijing em Tóquio, após Trump ter anunciado tarifas “recíprocas” sobre dezenas de países, incluindo China e Japão, além de uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações. Embora tenha ordenado a suspensão temporária das tarifas adicionais, as sanções contra os produtos chineses podem chegar a 245%, o que levou o governo chinês a adotar medidas de retaliação, incluindo uma tarifa de 125% e restrições à exportação de minerais estratégicos.
Em resposta à ofensiva chinesa, o consulado japonês em Hong Kong confirmou que China e Japão mantêm “comunicação regular em diferentes níveis”, mas evitou comentar o conteúdo das conversas diplomáticas. “Gostaríamos de nos abster de revelar detalhes das comunicações diplomáticas individuais”, afirmou a representação japonesa.

Apesar da investida chinesa, a relação entre os dois países é marcada por desconfianças históricas e atuais disputas, como o conflito territorial envolvendo as Ilhas Senkaku, administradas pelo Japão e reivindicadas pela China como Ilhas Diaoyu. Outro fator de atrito é a recente decisão de Beijing de proibir a importação de frutos do mar japoneses, após o Japão liberar águas tratadas da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico.
A tensão cresce em um momento em que Japão, China e Coreia do Sul tentam negociar um acordo de livre comércio trilateral. No fim de março, os três países realizaram uma reunião com o objetivo de firmar um pacto considerado “livre, justo, abrangente, de alta qualidade e mutuamente benéfico”. No entanto, a disputa com os EUA e os problemas bilaterais dificultam qualquer alinhamento mais sólido entre Tóquio e Beijing.
Japão e EUA: aliados?
O primeiro-ministro japonês sinalizou a intenção de tratar diretamente com o presidente norte-americano. “Mesmo enquanto acompanho atentamente o progresso de nossas consultas em nível ministerial, naturalmente estou pensando em visitar os Estados Unidos no momento mais apropriado para realizar uma reunião direta com o presidente Trump”, declarou Ishiba em 17 de abril.
Do lado americano, Trump reforçou a pressão sobre a China e os demais países afetados pelas tarifas. “Eles têm que fazer um acordo, caso contrário não conseguirão negociar nos Estados Unidos. Queremos que eles participem, mas precisam — e outros países também — fechar um acordo. Se não o fizerem, nós definiremos o acordo”, disse o presidente na terça-feira (22).
A porta-voz do Ministério do Comércio da China, por sua vez, reiterou a rejeição a qualquer negociação que exclua seus interesses. “Se isso acontecer, a China jamais aceitará e tomará contramedidas de maneira resoluta e recíproca. A China está determinada e tem capacidade de proteger seus próprios direitos e interesses”, afirmou na segunda (21).