Autoridades chinesas detiveram e interrogaram moradores da região de Gade, no Tibete, após a morte do influente líder budista Tulku Hungkar Dorje, confirmada em 3 de abril. Segundo fontes locais ouvidas pela Radio Free Asia (RFA), os tibetanos foram alvo de represálias por postarem nas redes sociais mensagens de luto e fotos do líder religioso, cuja morte ocorreu sob custódia no Vietnã, após mais de oito meses desaparecido.
Tulku Hungkar Dorje, de 56 anos, era abade do monastério Lung Ngon, na província chinesa de Qinghai. Ele teria fugido para o Vietnã em meio à perseguição do governo chinês por seu trabalho de promoção da cultura e da língua tibetanas e da educação para crianças de famílias nômades. Desde sua morte, a área do monastério foi colocada sob vigilância permanente, e o uso de celulares pelos moradores está sendo monitorado por policiais, afirmaram as fontes, que pediram anonimato por medo de retaliação.

“Após a morte de Tulku Hungkar Dorje, os tibetanos locais enfrentaram restrições abrangentes. Muitos moradores que expressaram condolências ou compartilharam fotos nas redes sociais foram convocados para interrogatórios pelas autoridades chinesas”, relatou uma das fontes. “Vários tibetanos também foram detidos, embora informações detalhadas não possam ser obtidas devido ao rígido controle e escrutínio”, completou.
Tulku Hungkar Dorje era conhecido internacionalmente por seu ativismo educacional e ambiental. Direitos civis e grupos da diáspora tibetana denunciam que ele foi vítima de repressão transnacional e exigem que o governo vietnamita permita uma investigação independente sobre a morte, que teria ocorrido após uma operação conjunta de prisão envolvendo autoridades do Vietnã e da China.
Mesmo após a chegada de monges tibetanos ao Vietnã para recuperar o corpo, os religiosos foram inicialmente impedidos de participar de reuniões oficiais na embaixada chinesa e proibidos de ver o abade. Somente em 10 de abril foi permitido que eles vissem o rosto de Tulku Hungkar Dorje, mas não o restante do corpo, segundo Ju Tenkyong, diretor do Instituto Amnye Machen, com sede na Índia.
Marchas pacíficas e vigílias com velas foram organizadas por tibetanos em vários países, como Índia e Estados Unidos, exigindo esclarecimentos sobre a morte. A pressão internacional aumentou após relatos de que escolas fundadas por Dorje foram fechadas depois do desaparecimento. Uma delas, a Hungkar Dorje Ethnic Vocational High School, oferecia educação gratuita para filhos de nômades e foi encerrada em meio a um processo mais amplo de restrições ao ensino da língua e cultura tibetanas.