Uma característica crucial da doutrina militar dos EUA, a capacidade de responder a qualquer crise global por meio da superioridade aérea e naval, está ameaçada. A avaliação é de Julian McBride, jornalista, antropólogo forense e ex-fuzileiro naval norte-americano, que publicou uma análise no site 19FortyFive alertando para o avanço do arsenal de mísseis da China no Indo-Pacífico. Segundo ele, a crescente militarização chinesa no Estreito de Taiwan e no Mar da China Meridional torna urgente uma reavaliação das estratégias de Washington na região.
McBride aponta que a força de mísseis chinesa, composta por centenas de projéteis de médio e longo alcance, representa risco direto a bases militares americanas posicionadas em países como Japão, Filipinas e Vietnã. Ele afirma que, num eventual conflito, essas bases poderiam ser alvos prioritários de ataques, comprometendo pistas de pouso, hangares e sistemas de reabastecimento que são essenciais para a operação de caças como os F-35.

“A crescente capacidade de mísseis da China efetivamente dificulta a liberdade de movimento de vários países no Indo-Pacífico, levando a discussões no Congresso dos EUA para que os militares analisem métodos para reforçar hangares reforçados e abrigos de aeronaves”, diz o analista. “Ainda assim, um enigma significativo permanece: pistas de pouso são sempre vulneráveis aos mísseis do Exército de Libertação Popular (ELP).”
Apesar do crescimento da capacidade balística, McBride lembra que o programa chinês enfrenta problemas internos. No fim de 2023, o governo de Beijing promoveu um expurgo de oficiais ligados à força de mísseis, após denúncias de corrupção envolvendo o uso de projéteis defeituosos. A revelação de que parte do armamento continha água em vez de combustível gerou desconfiança sobre a real eficácia dos sistemas.
Ainda assim, o avanço tecnológico não dá sinais de desaceleração. Em 2023, a China expandiu rapidamente sua capacidade de lançamento, com foco em ampliar sua presença estratégica não apenas no Indo-Pacífico, mas também em outras regiões como América Latina, Oriente Médio e África.
McBride ainda cita uma análise da pesquisadora de defesa Heather Williams, do think tank Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, segundo quem a China poderá usar meios militares, mais do que seu poder econômico e diplomático, para expandir sua influência e interesses.
De acordo com o autor da análise, uma resposta eficiente depende de uma combinação de fatores. “Os Estados Unidos e outros países do Indo-Pacífico precisam investir em mais capacidades de defesa aérea, enxames de drones e medidas defensivas para proteger ativos-chave de ataques com mísseis”, afirma.