O governo brasileiro aposta no fortalecimento da parceria com China, Índia, Rússia e demais integrantes do BRICS como caminho para sustentar a cooperação internacional em meio ao afastamento dos EUA das instituições multilaterais. A avaliação é de Celso Amorim, principal conselheiro de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que os países em desenvolvimento assumem hoje o papel de principais defensores do sistema internacional de regras compartilhadas. As informações são do jornal Financial Times.
“A China e as nações em desenvolvimento são hoje os principais defensores do sistema multilateral”, declarou Amorim em entrevista ao Financial Times. “O que é fundamental é ter regras que sejam aceitas multilateralmente.”
O assessor destacou que o espaço para a atuação dos BRICS tende a crescer à medida que os EUA, sob a presidência de Donald Trump, adotam políticas protecionistas, impõem tarifas generalizadas e se afastam da ordem econômica e social construída no pós-Segunda Guerra Mundial.

“À medida que os Estados Unidos se afastam do multilateralismo, o espaço para os BRICS aumenta”, disse Amorim, que lidera a preparação da próxima cúpula do grupo, marcada para julho, no Rio de Janeiro.
O encontro no Brasil terá como foco temas centrais da agenda de Lula, como combate à pobreza, desenvolvimento sustentável, energia e cooperação econômica. Amorim ressaltou que, apesar da aproximação com os BRICS, o País não pretende adotar alianças exclusivas, e sim “buscar boas relações com todas as grandes potências”.
Na avaliação do diplomata, o fortalecimento do BRICS contribui também para dar mais peso ao G20, grupo que reúne economias desenvolvidas e emergentes, citando o alto nível de participação na cúpula do G20 realizada no ano passado no Rio de Janeiro.
Mesmo reconhecendo o distanciamento atual dos EUA em relação a fóruns multilaterais, Amorim acredita que um cenário global sem a presença ativa de Washington é inviável. “Pouco a pouco, teremos que atrair os Estados Unidos novamente”, afirmou. Ele frisou, no entanto, que o Brasil não pretende adotar uma postura de confronto com os americanos, mas também “não vai deixar de dar a sua opinião”.