Diversos países estão explorando a chamada “dissuasão latente”, que consiste em desenvolver tecnologias nucleares de uso dual sem, necessariamente, produzir armas atômicas. Essa abordagem visa influenciar o comportamento de adversários e aliados mesmo sem um arsenal para ser usado, conforme análise de Matthew Fuhrmann, professor de ciência política na Universidade Texas A&M, publicada no portal War on the Rocks.
Fuhrmann destaca que nações como Irã, Polônia e Coreia do Sul estão adotando essa estratégia. Em 7 de março, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, afirmou ser o momento de “buscar oportunidades relacionadas a armas nucleares”. Líderes sul-coreanos fizeram declarações semelhantes, sugerindo interesse em explorar a opção nuclear. O Irã, por sua vez, tem avançado significativamente em seu programa nuclear, aproximando-se da capacidade de desenvolver armamentos atômicos.
A “dissuasão latente” envolve a obtenção de tecnologia necessária para fabricar armas nucleares sem efetivamente construí-las. Essa posição permite que os países utilizem seu status quase nuclear para influenciar o comportamento de outras nações.

“Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente do Irã, abraçou explicitamente uma estratégia de dissuasão latente quando disse em 2005: ‘Uma vez que tivermos o domínio do ciclo do combustível, todos os nossos vizinhos tirarão a conclusão adequada, de que ousar atacar o Irã seria temerário’”, diz o artigo, destacando que outras autoridades iranianas fizeram declarações semelhantes mais recentemente.
Fuhrmann identifica diferentes formas de dissuasão latente. Aliados dos EUA, como Polônia e Coreia do Sul, utilizam a “dissuasão por proliferação”, ameaçando desenvolver armas nucleares para obter maior comprometimento de segurança por parte de Washington. O Irã, por outro lado, emprega a “dissuasão por ataque retardado”, sugerindo que poderia rapidamente montar uma bomba em resposta a uma agressão, e a “dissuasão por dúvida”, mantendo ambiguidade sobre sua capacidade nuclear para dissuadir ataques.
Para que a dissuasão latente seja eficaz, Fuhrmann argumenta que é essencial possuir tecnologias sensíveis, como instalações de enriquecimento de urânio ou reprocessamento de plutônio, e demonstrar um programa nuclear restrito, sem intenções evidentes de desenvolver armas. Países como Japão e Alemanha estão bem posicionados nesse aspecto, enquanto Polônia e Coreia do Sul enfrentam desafios devido à falta dessas tecnologias avançadas.
A análise de Fuhrmann ressalta que a dissuasão latente é uma estratégia complexa e arriscada, exigindo um equilíbrio delicado entre o desenvolvimento tecnológico e a percepção internacional sobre as intenções do país. “Combinar a tecnologia nuclear de uso duplo mais sensível com intenções políticas contidas é uma receita para maximizar as chances de sucesso”, conclui o especialista.